Manipulação no futebol: o que leva jogadores a aderirem a esquemas?

A descoberta, pelo Ministério Público de Goiás, de mais jogadores envolvidos em manipulação de resultados trouxe uma nova crise para o futebol brasileiro.

Nos últimos anos, sites de apostas inundaram a televisão, com jogadores renomados como garotos propagandas e os clubes patrocinados por esses empreendimentos. Após a sua liberação no país, em 2018, só agora o governo federal vai regulamentar a atividade.

O professor Thiago Santos é doutor em gestão do esporte e coordena o projeto “Desporto contra a Manipulação de Resultados” em Portugal.

Ele pesquisou o que leva os jogadores a aderirem à manipulação. Thiago explica como é o primeiro passo dos aliciadores.

"A primeira coisa que os aliciadores tentam identificar são as fragilidades daquele atleta. É olhar, por exemplo, nas redes sociais, como que ele comunica, qual é a equipe que está jogando, se aquela equipe está pagando em dia. De alguma forma, é como se fosse mesmo aquilo que nós chamamos de aliciamento."

O pesquisador indica que as quadrilhas buscam envolver pessoas próxima aos atletas, à família e até dirigentes. Com isso, ganham confiança ou até ameaçam para adesão dos jogadores no esquema de fraude.

Thiago destaca medias importantes para enfrentar a situação.

"Para conscientizar da necessidade de educar os jovens atletas para que, quando eles passarem por situações como essa, saibam como agir. Conscientizar cada vez mais os clubes e as organizações para terem atenção nessa lógica, que está cada vez mais presente, que é a questão da manipulação do resultado, e o envolvimento de uma máfia gigante de pessoas que utilizam as apostas como um mote para manipular resultado." 

Já o advogado especialista em direito esportivo Andrei Kampff ressalta que o próprio código de ética da Fifa proíbe qualquer relação de jogadores, técnicos e pessoas envolvidas no futebol com sites de apostas.

"A gente tem lá na Fifa, no estatuto, no artigo 2º, que 'o compromisso é de combater a manipulação de resultados, defendendo a integridade das competições'. Lá no código de ética também traz que as pessoas submetidas a esse código são proibidas de participar de maneira direta ou indireta de apostas, loterias ou eventos similares, porque isso pode lançar dúvidas sobre a integridade do esporte." 

Andrei Kampff ressalta que vários clubes hoje colocam nos contratos dos jogadores a proibição de qualquer relação de atletas com casas de apostas.

O advogado também ressalta necessidade de atuação conjunta para garantir a integridade do esporte.

"A manipulação de resultado contraria a essência do esporte, que é a incerteza do resultado. O torcedor vai para o campo porque ele não sabe o resultado que vai acontecer. Então, proteger a integridade passa a ser fundamental. Para isso, a gente entende como fundamental uma cooperação de diversos entes, para que medidas preventivas e também repressivas sejam tomadas a fim de diminuir esse tipo de atividade."

A Câmara dos Deputados instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito para também investigar a manipulação de resultado em partidas de futebol.

*Com sonoplastia de Jaílton Sodré.