Internacional

Entenda implicações da visita de Lula à China para o cenário mundial

Enviado especial explica contexto econômico e político da nova relação

A visita do presidente Lula à China começou em Xangai, cidade que rivaliza com Pequim, que é a capital. Economia e Governo. Dinheiro e poder. Na China, tudo isso está ainda mais interligado do que já é normalmente. 

Começar o dia indo à sede do banco dos Brics foi um símbolo perfeito dessa viagem, porque essa é uma instituição que une esses dois aspectos. É um banco especial porque existe por razões econômicas, mas também políticas.

O NDB, sigla em inglês do Banco de Novo Desenvolvimento, é mais conhecido como banco dos Brics. Brics são as iniciais de cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.  Eles representam 40% da população mundial, um quarto do PIB do planeta - cerca de US$ 25 trilhões - e também é uma tentativa de criar uma voz alternativa ao tradicional mundo rico americano e europeu.

Esse banco é o instrumento financeiro que busca ajudar países em desenvolvimento. Para o Brasil, estão reservados US$ 1,7 bilhão. 

Se esperou a visita de Lula à Xangai para a posse de Dilma Rousseff na presidência do banco. Economista e com uma longa carreira, a nomeação de Dilma foi um sinal claro de prestígio de Lula e do que o Brasil representa nesse grupo. 

Acompanhada de dois diretores, um russo e outro chinês, Dilma transparecia a alegria de quem está assumindo um cargo de muita relevância no cenário internacional. No discurso de posse, Dilma disse ter uma conexão antiga com o banco, pois foi em 2014, numa reunião do Brics em Fortaleza, quando ela era presidente do Brasil, que foi decidida a criação do banco. Disse também que a ajuda a países mais pobres, em desenvolvimento, é uma prioridade e que o banco desempenha um papel importante na visão de um mundo multilateral.

Essa expressão, mundo multilateral, é uma vontade política de questionar o domínio americano que se traduz não só em poderio militar, mas também no peso dos Estados Unidos em instituições como FMI e Banco Mundial que, tradicionalmente, eram os únicos com cacife suficiente para socorrer países em dificuldade financeira - mas também para impor condições que muitos acham injustas. 

No seu discurso, o presidente Lula salientou um outro aspecto que também sinaliza concretamente uma influência na direção de um mundo mais plural. Lula disse que os países não precisam ficar sempre atrelados ao dólar nas suas transações internacionais. Que se pode fazer um comércio direto, usando as moedas locais. 

Diante da delegação brasileira, com dezenas de políticos, entre governadores, senadores e deputados, Lula também falou do Brasil: que nunca podia imaginar a volta da fome no nosso país e que o último governo destruiu tudo o que foi construído nas áreas de meio ambiente, ciência e cultura. E encerrou seu discurso pedindo um mundo mais generoso e com mais fraternidade, para derrotar o discurso do ódio e o individualismo. 

Se distanciar do dólar tem consequências na relação com os Estados Unidos. Pode ser uma visão econômica racional, mas também com carga política. 

E, à tarde, a visita à Huawei , empresa chinesa de telecomunicações que é uma das maiores do mundo, de certa forma botou mais lenha nessa fogueira. Isso porque embora a Huawei já esteja no Brasil há mais de 20 anos, ela hoje faz parte de uma briga entre a China e os Estados Unidos. O governo americano proibiu a Huawei de vender seus produtos lá, o que causou um prejuízo de mais de US$ 30 bilhões para os chineses.

É uma briga sobre tecnologia, patentes, invasão de privacidade, espionagem... as acusações são polêmicas e, portanto, a visita do presidente do Brasil nesse momento pode ser lida de várias maneiras. Para a China, tem um gostinho de vitória e, necessariamente, para os Estados Unidos, um sabor de derrota. Economia, política, e muito cuidado na diplomacia. Afinal, são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil. Mas o principal está por vir. 

Nessa sexta-feira (14), Lula, que já está em Pequim, se encontra à tarde com o líder chinês Xi Jinping. Os dois estão começando seus terceiros mandatos. Os dois são pesos pesados no cenário da política internacional. Ambos gostariam de ter o apoio do outro em vários temas, de meio ambiente à guerra da Ucrânia, por exemplo.  Uma boa relação entre eles pode render muito para o Brasil, para a China e até para o mundo.

Agência Brasil / Por Marcos Uchôa - enviado especial da TV Brasil, para a Rádio Nacional - Pequim (China) / Edição: Sheily Noleto / Alessandra Esteves - 14/04/2023 09:25:17. Última edição: 14/04/2023 09:25:17

Tags: Visita Lula China China Brics Dilma Rousseff

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