Justiça

RJ: Defensoria pede retirada de post que criminaliza adolescente morto

Mensagem viola direitos da personalidade do jovem e da mãe, diz órgão

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro pediu à Justiça que obrigue a Polícia Militar (PM) a retirar do ar uma postagem nas redes sociais em que chama o adolescente Thiago Menezes, de 13 anos, de criminoso. Thiago morreu durante uma operação policial realizada segunda-feira (7) na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, e moradores e familiares contestam que ele tenha entrado em confronto com os militares.

O pedido será julgado pela 10ª Vara de Fazenda Pública. A Defensoria Pública argumenta que, apesar de a Polícia Militar posteriormente ter apresentado outras versões para o fato, o texto segue nas redes. Os defensores acrescentam que a postagem gerou indignação na mãe do adolescente e que houve violação aos Direitos da Personalidade de Thiago e da mãe.

Na publicação nas redes sociais, a PM afirma: "Um criminoso ficou ferido ao entrar em confronto com policiais do #BPChq [Batalhão de Choque] na comunidade da Cidade de Deus, em Jacarepaguá. Com ele, uma arma de fogo foi apreendida. A ocorrência está em andamento". Junto ao texto, uma fotografia mostra dois policiais armados exibindo a arma mencionada. No fundo da fotografia, está a bandeira do batalhão, que traz o lema Sangue & Vitória. A postagem já teve mais de 1 milhão de visualizações.

A Defensoria pede ainda que a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro deixe de reprimir de forma ostensiva as manifestações pacíficas que ocorrem em decorrência da morte do menino, bem como o protesto social da mãe.

A Agência Brasil pediu à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro um posicionamento sobre a ação judicial da Defensoria Pública, mas não teve resposta até o fechamento desta reportagem.

Versões

Em comunicado oficial na última segunda-feira, a PM deu a versão de que equipes do Batalhão de Polícia de Choque realizavam policiamento quando dois homens, em uma motocicleta, atiraram contra a guarnição. Um deles seria o jovem de 13 anos. “Depois do confronto, um adolescente foi encontrado atingido e não resistiu aos ferimentos”, disseram os policiais.

Os moradores da Cidade de Deus dão uma versão diferente para o caso. O tio da vítima, Hamilton Bezerra Flausino, disse que Thiago não tinha envolvimento com o crime. A mãe, Priscila Menezes, contou que “o filho era uma criança indefesa, que não oferecia perigo e não andava armado".

Thiago foi atingido por dois tiros disparados pelos militares: um dos projéteis atingiu a perna e o outro, o peito do adolescente, que morreu no local. Segundo a Defensoria Pública, ele foi baleado por volta da 0h40, na Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, via principal da Cidade de Deus.

O corpo do adolescente foi velado em uma igreja evangélica que ele frequentava na comunidade, a poucos quilômetros de onde foi morto. O corpo de Thiago foi enterrado na tarde desta terça-feira (8) no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá.

Protesto

A morte do jovem gerou indignação na comunidade, que protestou contra a violência policial na noite de segunda-feira. A manifestação, porém, foi dispersada pela própria polícia. Vídeos postados nas redes sociais mostram policiais usando spray de pimenta nos manifestantes com o objetivo de afastá-los.

A Polícia Militar informou que militares do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom) acompanharam a movimentação, dando apoio à tropa de choque.

A Avenida Salazar Mendes de Moraes foi fechada ao tráfego nos dois sentidos desde a Estrada dos Bandeirantes. A avenida liga o bairro de Jacarepaguá à Barra da Tijuca. Com o fechamento das pistas e a colocação de caçambas de lixo por moradores ao longo do trajeto, o tráfego teve de ser desviado pela Companhia de Engenharia de Tráfego, órgão da prefeitura do Rio. O Corpo de Bombeiros foi acionado para apagar o fogo que os manifestantes atearam ao lixo.

Nesta terça-feira, manifestantes voltaram às ruas para protestar contra a morte de Thiago Menezes. Por volta das 18h, o ato ocupava faixa da Rua Edgard Werneck, na altura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Por Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro / Edição: Nádia Franco - 08/08/2023 20:00:29. Última edição: 08/08/2023 20:00:29

Tags: Defensoria Pública Do Estado Do Rio De Janeiro Polícia Militar Cidade De Deus Morte De Adolescente Nte

Leia também:

Justiça torna rés três pessoas por morte de policial no Guarujá

Justiça torna rés três pessoas por morte de policial no Guarujá

Ministério Público informou que abriu um Procedimento Investigatório Criminal na esfera penal para apurar como ocorreram todas as mortes registradas no âmbito da operação.

TSE empossa primeira ministra negra na história

O nome de Edilene Lobo estava na lista enviada pelo STF ao presidente Lula para indicação ao cargo

PF cumpre quatro mandados na investigação de ataque hacker a Janja

PF cumpre quatro mandados na investigação de ataque hacker a Janja

Segundo a Polícia Federal, mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, e as investigações sobre ataque ao perfil de Janja estão em andamento.

STF tem 2 votos por regulamentação da licença-paternidade no Congresso

STF tem 2 votos por regulamentação da licença-paternidade no Congresso

Parlamentares terão prazo de 18 meses para regulamentar licença-paternidade. Se a norma não for aprovada, benefício seguirá regras da licença-maternidade, que é de 120 dias.

Este site usa cookies para fornecer serviços e analisar o tráfego. Saiba mais. Ok, entendi