A operação integrada das forças de segurança do Rio de Janeiro no Complexo da Maré chegou ao oitavo dia nesta sexta-feira e, apesar do menor número de conflitos armados, comum em operações no estado, milhares de moradores tiveram a rotina fortemente impactada pelas ações.
Nesse período, 44 escolas da região precisaram suspender as aulas em algum momento, afetando pelo menos 14 mil alunos. Unidades de saúde fecharam, assim como o comércio local. Na rede estadual de educação, os quatro dias de aula perdidos serão repostos e a Secretaria Municipal de Saúde diz que remarcou os atendimentos que não foram feitos. Mas permanece a insegurança de moradores para sair de casa, até para ir ao trabalho ou à faculdade.
O governo do Rio divulgou a ocorrência de uma morte, mas organizações que atuam na região afirmam que duas pessoas morreram durante a operação e que não foi realizada perícia em nenhum dos dois casos.
De acordo com nota da PM, um homem foi atingido durante confronto no dia ? e socorrido mas morreu no hospital. Uma arma teria sido apreendida na ocorrência. A assessoria da corporação não respondeu formalmente sobre a denúncia da segunda morte.
Tainá Alvarenga, coordenadora do Eixo, da Redes da Maré, organização que atua há mais de 20 anos no complexo de favelas, denuncia também que agentes das forças especiais estão trabalhando sem identificação e sem câmera nos uniformes, descumprindo determinação do Supremo Tribunal Federal. Ela observa que o sentimento de medo e insegurança permanece entre os moradores, apesar da operação atual ser menos violenta do que as anteriores,
O influenciador da Maré, Raphael Vicente, publicou um vídeo nas redes sociais denunciando também que agentes entraram e revistaram a casa da sua família e só foram embora porque a irmã mostrou a eles o perfil dele no Instagram. Vicente também relatou que tem recebido reclamações de vários moradores da comunidade com dificuldades para acessar escola e trabalho.
Na avaliação de Pablo Nunes, coordenador do Cesec, Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, o governo não tem uma visão global sobre a política pública de segurança e, por isso, as ações na área têm sido descoordenadas.
De acordo com balanço divulgado pelo governo do estado, até esta sexta-feira, as ações resultaram na prisão de 28 suspeitos, além de apreensões de armamentos, acessórios, veículos, drogas e equipamentos, com prejuízo estimado às organizações criminosas de R$ 20 milhões. Em nota, a PM informou que apura todas as denúncias e que as ações das equipes seguem pautadas por critérios técnicos e planejamento prévio e que não compactua com quaisquer desvios de conduta ou crimes cometidos por agentes.
A Polícia Civil foi procurada, mas não respondeu até o fechamento da reportagem.
Agência Brasil / Por Fabiana Sampaio - Repórter da Rádio Nacional - Rio de Janeiro / Edição: Tâmara Freire / Beatriz Arcoverde - 20/10/2023 18:50:09. Última edição: 20/10/2023 18:50:09